sexta-feira, julho 23, 2004

"O FUTURO HERMÉTICO"

Como eu queria decidir o meu futuro conhecendo-o. Julgar a trépida imagem herméticamente emergente. Como eu queria ver claro, o reflexo repetido do áspero sonho sentido. Meu amor...porque me aparecem miriades de palavras quando penso em ti ? Resplandecendo como estrelas que nascem.

Este é um caminho duro, meu Amor. Feito de pedra. Feito de terra. Feito de privação e ilusão. Por que me carregam as costas ? Por que me secam os lábios e não encontro onde beber ? É estreito este caminho. Infinitamente estreito. Ladeado por abismos sem fim, frios como o Inverno em Berlim. Eu sei meu Amor, eu sei. Ao persistir neste caminho encontrar-te-ei e ao encontrar-te encontro Deus...porque Deus é Amor...sim Deus é Amor...não uma pré-concebida figura feita de memórias desgarradas.

Mas eu saí. Eu saí.

Estava tão perto...tão perto. Tinha os olhos bem abertos mas era o coração que via.

Era dificil... o tempo como suave crescendo de lua tomou conta do meu andar outrora vigoroso e determinado agora trémulo e impreciso. Tomou conta do meu cérebro. Fechou-me o coração, meu Amor.

Não existem mais caminhos que eu pudesse fisicamente alcançar. Mas se fechasse os olhos, se reduzisse a marcação austera do meu coração poderia mudar para outro.

E foi o que fiz.

Um caminho deslumbrante, meu Amor. Um caminho deslumbrante. Onde não havia sede e o andar era fácil, ágil e atlético fazendo crente o mais rígido e céptico.

E forjei a felicidade porque tanto ansiava. Não era perfeita mas eu podia melhorá-la porque eu tinha um objectivo, porque eu sempre o tive e...

“Quem me dera voltar atrás ?”

Não sei...há uma estranha ironia que faz encaixar todas as peças, mesmo não servindo.

Talvez se pudesse ter visto o meu futuro pudesse ter decidido de outra forma.

Estou a tentar voltar ao primeiro caminho. Não é fácil meu Amor. E não me parece fazer muito sentido...mas estou a tentar, estou a tentar. E, meu Amor, se o Sol porventura tornar escuros os brilhantes olhos em que um dia me encontrei quero que saibas que te amo. Hoje, ontem e amanhã, nesta vida, noutra dimensão, por toda a eternidade.
 
Tiago Torres Mascarenhas.

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