quarta-feira, abril 25, 2007

Dormente

Quão vermelho pode o coração ser?

Quão dado e quão apaixonado, quão livre e quão louco?

Quão orgânico pode o ser ser?

Quão terra e quão quente, quão sangue e quão diferente?


Quão longe posso eu ficar, obrigado a esperar?

E quão triste posso eu estar, obrigado a sonhar?

E quão sério posso me apagar, obrigado a mudar

E quão indiferente possa eu estar, obrigado a esperar


Espero que o segundo, que o segundo passe a minuto,

Mas que nunca passe a hora de ser feliz

Espero que o dia, que o dia passa a mês,

E o mês a estação, a nossa vida a um coração

segunda-feira, abril 02, 2007

A cantar com a Francisca

Apetece-me chorar mas não tenho lágrimas, secaram da última vez que choveu; apetece-me falar, dizer coisas inteligentes e cheias de humor, passar a mão pela tua frieza sarcástica mas não consigo: a língua está presa, a boca não mexe, a epiglote fechada. Apetece-me amar-te, amar-te louca e euforicamente, do ínicio da noite ao raiar da madrugada, mas não hoje, talvez amanhã ou no dia a seguir; apetece-me comunicar, chamar pela mudança moribunda que morre miserável dentro de vós; apetece-me alterar frequências em intervalos de dois tons, apetece-me mas não agora, agora estou invadido por bemois, simples e até duplos; apetece-me correr para a multidão a celebrar a vida, a vida ou o que resta dela, correr desenfreadamente como se não houvesse a seguir como se fosse tombar no fim e não o soubesse porém fico parado, estático, imóvel, em estátua que todos os pombos desta terra tenham a incrivel oportunidade de me corroer com a porcaria que jorram dos céus; apetece-me apetece-mes, aos milhares, até desfalecer, de sono ou de revolta, que revolta? A de Deus contemplando um espectro que não forma luz; apetece-me acabar de forma rude e fria, de forma inesperada e obtusa, e assim o vou fazer.