sábado, março 17, 2007

Adeus Primo

Talvez por minha própria cobardia pensei e repensei se deveria escrever este texto. Fico feliz por ter decidido escrevê-lo, interpreto-o com um sinal de maioridade e de maturidade.

Recebi a notícia pela voz de minha mãe, na quinta-feira, logo pela manhã, 9h estava quase a chegar à Infante Santo.

O meu primo Zézinho – nunca o conheci por outro nome que não este – nascido, criado e vivendo em S. Torcato, Guimarães, tinha falecido, aos 40 anos de idade.

A estupefacção foi grande bem como alguma comoção perfeitamente justificáveis – o meu primo era uma pessoa da qual só conheci o bem, de uma serenidade absoluta.

Não o via há vários anos, seguramente mais de cinco, e felizmente que a minha memória guarda clara as recordações do seu perfil e do seu alçado.

Recordo com nitidez também a sua profissão, ourives.

O meu primo nasceu surdo-mudo, tendo aprendido a esboçar palavras para outros colorirem.

Porém falava bem mais e melhor do que a esmagadora maioria das pessoas porque falava ao coração com a sua bondade intrínseca.

Gostava muito do meu primo Zézinho é aterrador que as pessoas boas se vão embora tão cedo deste mundo tão intransigente.

sexta-feira, março 16, 2007

Silêncio

Fala-me
Fala-me ao coração
Diz-me aquelas coisas que eu gosto de ouvir

Fala-me de ti
Fala-me de mim

Fala-me do intervalo que somos
Do que sonhamos e do que a vida vai fazendo de nós

Fala-me sem pensar
Gosto de ti assim tal como és

Fala-me
Ainda que a tua boca não abra

Por vezes diz-se bem mais em silêncio
Do que em n palavras eruditas

Por favor
Fala-me ao coração

quinta-feira, março 15, 2007

A Ausência

Sinto a ausência de formas muito diferentes.

A ausência de quem se ama mas que se sabe irá regressar quase que faz bem: empurra-nos contra nós próprios perguntando “e o que andas a fazer por ti?” e pergunta tantas vezes...a resposta? Não sei. É tão fácil preocupar-nos tão somente em ajudar quem gostamos, sentirmo-nos recompensados por esse acto magnânimo, impulsionados pelo amor que sentimos.

Quando nos viramos para nós próprios, às vezes sentimos medo, eu sinto medo, porque quero muita coisa, muita coisa não material, muita coisa que dá muito trabalho e que me é difícil frequentemente conseguir.

Se fosse cobarde virava as costas ao que me dá cabo da cabeça e ficava-me apenas pela profissão remunerada condignamente e ao amor que me enriquece todos os dias.

Mas não o sou.

Sou um gajo tramado, e não desisto nem atiro toalhas.

E sou um tipo exigente e perfeccionista, não me contento à primeira.

Conseguentemente vou pegar este touro de 750Kg alimentado a erva da natural, forte como o vento da tempestade e juro a mim mesmo que o vou vergar, vou vergar este animal gigante que tem muitos nomes, muitos nomes que concorrem igualmente para o alcançar da felicidade plena, essa puta que tem tantos campos para preencher que mais parece inalcançavel!

A ausência ajuda-nos a sermos mais fortes, mais completos e a tornar-nos independentes verdadeiramente.

É também essencial para o fortalecimento da ligação que temos, para compreendermos a real dimensão dela.

Eu sinto-a de forma especial, de forma especial porque sei que estás comigo e porque a alma é infinita; porque nós somos parte de um só, Deus.