quinta-feira, fevereiro 07, 2008

“Que as brumas cheguem cedo”

Vejo-me a cair, doce, levemente
Vejo-me como se já estivesse fora de mim
Sereno, contemplativo

Caio lentamente mas depressa me afundo
Morosamente arrastado para as profundezas do fogo

Para que das cinzas retorne
Sem nome e sem destino
Sem curiosidade nem hino

Vejo-me a levantar, irado, ferozmente
Vejo-me como se estivesse prestes a reclamar-me
A reclamar o corpo marcado da sina infeliz

Que ser algum ouse levar o que é meu

Erguido expulsando sangue para os canais
Que raiado fique o olhar da vingança

Espumo como cães com cio
Nojenta e barbaramente

Purgo-me do esgoto acumulado em mim

Tenho fé
Fé nas cicatrizes eternas que me amaldiçoam as mãos

Fé que desapareçam de forma rápida e inesperada
Quero as mãos vazias

Desprovidas de esperança ou significado
Obrigadas a rasgarem-se para algo escrever

Tenho fé
Fé que as brumas cheguem cedo
E que cedo me levem para lá.

Sem comentários: