Casaram-se por amor; juntaram-se por amor; “celibataram-se” por amor à causa própria; assumiram o seu gosto por pessoas do mesmo sexo; não assumiram o seu gosto por pessoas do mesmo sexo e vivem corajosamente uma vida que não sabem muito bem de quem é nem a quem pertence; não assumiram o seu gosto por pessoas do mesmo sexo embora seja mais ou menos do conhecimento de todos que a sua cara-metade do sexo oposto é-lhes tão querida como uma velhinha escova de dentes prestes a ir para o lixo e portanto sempre que podem e é razoavelmente discreto dão largas à sua felicidade antes de voltarem para a confortável gaiola da qual têm medo de voar; casaram-se embora toda a gente saiba que amor não é exactamente a mesma coisa do que amizade sendo que esta última por vezes facilita muito mais as relações do que propriamente a outra, que é uma descontrolada e uma ciumenta; juntaram-se porque até é bom para as despesas e se calhar um cozinha enquanto o outro trata dos papéis para o IRS e o mais provável seja que acabem na igreja com a bênção de Nosso Senhor e das respectivas famílias; juntaram-se por amor mas uma das famílias ou as duas famílias acham que o respectivo descendente poderia ter arranjado melhor, talvez na missa das 19h30 no Campo Grande, talvez no Parque Eduardo Sétimo; juntaram-se por amor mas uma das sogras se calhar acha que lhe arrancaram o filho ou a filha, querido ou querida, quiçá o seu tesouro adorado e portanto urge minar toda a relação ainda que o filho ou a filha sejam muito felizes e se preocupem mais com a sua realização individual do que com a sua realização amorosa;
Enfim, seja qual for a situação em que cada um de nós se reveja – acima descritas – respeito-as a todas e prometo não fazer comentários, ser discreto na medida do possível se bem que alguma fofoquice não é o mesmo que andar a difamar e a espalhar infâmias sobre as pessoas, é apenas um suminho que se bebe e se pensa “ai que bem que isto me soube, se calhar já bebia mais um!” – mas dizia, e poderia dar muitos mais exemplos garanto-vos, nada justifica o monolitismo da geração dos 30.
Hoje em dia, para se tomar um copo com um trintão ou uma trintona – é isso que nós já somos amigos tenhamos carinha de 27 ou não – têm que se seguir procedimentos muito delicados e extremamente burocráticos que em geral, à primeira abordagem mais forçada, caem na mais vergonhosa ruína, podendo apenas ser retomados “algumas semanas depois”.
Em particular o “copo com amigo do mesmo sexo” implica frequentemente e de forma não anunciada o “copo com amigo do mesmo sexo mais a respectiva namorada ou mulher”. Tal provoca que a disponibilidade para “o copo” passe a ser não de duas pessoas mas de três pessoas, ou se ambos quiserem levar as namoradas ou mulheres, a disponibilidade de quatro pessoas e não de duas.
E a disponibilidade não é apenas absoluta, ou seja, “temos alguma coisa na agenda ou não” é também relativa no género feminino: “claramente não temos nada para fazer porém não me apetece tomar café com o teu amigo…mas vai tu…a sério não me importa!”. Ao que o género masculino geralmente retorque com: “Eu fico aqui então contigo.” Sendo que muitas vezes tal é sinónimo de: “talvez com este gesto absolutamente magnânimo consiga uma noite de sexo como já não me lembro”. Claro que na esmagadora maioria das vezes o que obtêm mesmo é…um balde de gelado do Ben&Jerry’s e um filme independente – o que poderá nem ser assim tão mau!
O que me parece é que há 10 anos atrás quando estávamos nos vintes, todo este procedimento seria duramente recriminado com aquilo a que se habitualmente se chama de “COLAS” e poderia vir a ter consequências imprevisíveis na própria relação.
Agora, claro, uns anos mais tarde, com uns quilos a mais e uns cabelos a menos, já tudo é bem mais passivo.
E ainda existe o caso extremo do “jovem casal com um pequeno filho” que não pode abandonar o seu ninho, individualmente ou em casal porque senão “o filho não cresce”. Está nas leis da física, não são é as de Newton, são as de um tipo qualquer que vive num universo paralelo qualquer que em vez de ter acordado da sua sesta com uma maçã caída do ramo acima do seu gesto, acordou com uma bosta de pássaro algures entre os dentes e os pelos rastejantes do nariz.
Em suma as pessoas fecham-se, e fazem-no da maneira mais cómoda: com a pessoa com que passam mais tempo. Não admira pois que os casamentos – esse pergaminho tão valioso para efeitos fiscais – durem tão pouco…pudera!
E quando convivem fazem-no de forma controlada e em conjunto esquecendo-se que se calhar “as gajas querem falar de gajos – e sim pode incluir-nos amigos – entre si” e se calhar os gajos querem ir testar se os atributos que os tornam “absolutamente irresistíveis apesar das barriguinhas” ainda funcionam seja à mesa no Cosmos, seja à noite no BBC, no Incógnito ou no Lux.
Para finalizar existe o caso mais chocante e gratuito que é:
Estou tão cansado do trabalho que de facto vou é “moribundar” para o sofá, à espera que a morte – também conhecida por segunda-feira – chegue serena e silenciosa.
“Estás a ficar velho e rabugento Mascarenhas” imagino eu os comentários mas reclamo que sem tertúlias ou convívios com as pessoas estritamente necessárias aquele momento em particular, resta-nos percorrer em casal todos os restaurantes desta cidade magnifica e todos os espaços culturais, discotecas e assim.
Estaremos a falar de quê?
Vinte espaços?
Trinta espaços?
Lisboa é muito bonita mas é “uma caganita”, vive-se aqui 2 anos e já se conhece tudo, por muito bonito que seja tudo, e que a luz encha os olhos de forma luxuriante e esplendorosa.
Diz-se que há quem tenha medo de ficar sozinho.
Há cães à venda.
Há livros para ler.
Há música para ouvir e até para ver ouvir e ver.
Há televisão para ver.
Há milhares de coisas para aprender, vejam:
Desenho, pintura, gestão, arquitectura, recursos humanos, música, filosofia, direito, relações humanas, medicina, ciências ocultas, automóveis, motas, barcos, como aparecer nas revistas cor-de-rosa, alpinismo, sítios exóticos para viajar, fiscalidade, desporto, ginásio, informática, esoterismo, línguas estrangeiras, língua portuguesa já agora (…)
Medo de quê?!
De se libertarem dessa preguiça fulminante e começarem a evoluir como pessoas?!
Já nem digo para nos tornarmos cidadãos do mundo mas que tal da cidade?!
Enfim, vou almoçar mas não vou ao restaurante aqui de baixo vou a um qualquer mais longe, de preferência que não conheça, porque a rotina me cansa, e evoluir, ainda que no ramo da restauração, é um imperativo.
Amen.